segunda-feira, 8 de junho de 2020

Uma pandemia na minha vida


No dia 11 de março de 2020 já rolavam as notícias de COVID-19 no resto do mundo, claro já rolavam as notícias muito antes disso, mas eu tinha ficado sabendo a pouco porque eu normalmente não acompanho notícias (por isso não posso ser uma blogueira profissional).
Então nesse dia pela manhã fui pra minha aula de natação e em seguida caminhar na praia. Tinha planos de começar essa rotina de caminhadas, mal sabia eu que esse seria meu ultimo dia de aula e o único de caminhada.
No mesmo dia eu comecei a ficar doente, era rinite que depois evoluiu pra sinusite. Quem tem essas coisas sabe que época de mudança de estação é ruim assim mesmo. Aí no dia 12 eu já tava bem mal, mas eu fui pra aula a noite mesmo assim porque tinha trabalho pra apresentar, eu gosto de ser a primeira a apresentar pra amenizar meu transtorno de ansiedade... Mas é horrível você espirra e fica todo mundo ti olhando, mesmo você tomando o cuidado de espirar no cotovelo e tal. Enfim, no dia 13 eu faltei e esse foi meu primeiro dia de quarentena. É fácil de lembrar porque foi uma sexta-feira 13.
Na segunda-feira dia 16 de março de 2020 foi decretada a quarentena, se não me engano no estado de São Paulo. Bem eu já estava em casa mesmo.
Primeira e única vez que saí de casa em março, depois do dia 12 é claro, foi no dia 25, aniversário da minha vó. Sim já espero as criticas por eu ter ido visitar uma sra. que estava completando 85 anos, mas meu raciocínio foi: minha vó mora com meu tio que é guarda municipal, mesmo ele tomando todas as precauções, se tiver que pegar vai pegar, se tiver que passar pra minha vó vai passar💁
Então eu fui, limpei os pés quando cheguei, fui direto lavar as mãos, não encostei em ninguém, e foi essa a parte mais difícil, não pude dar um beijo, um abraço na minha vó! Aproveitei a carona do meu pai e fui no mercado, trouxe bastante coisa pra não precisar sair tão cedo, enquanto meu marido higienizava as compras eu tomava banho, e tem sido essa nossa rotina de supermercado, mas normalmente quem vai é ele.
Chegou abril, as Etecs (onde eu estudo) bem como todas as escolas do estado, estavam de ferias, recesso de julho antecipado, e aí eu saí de novo a primeira e única vez em abril, pra ver minha outra vó que completou 83 anos no dia 23 de abril de 2020. Fiz exatamente o mesmo esquema, exceto que dessa vez já era recomendado o uso da máscara, e como eu não tinha uma, eu improvisei uma bandana com papel toalha por dentro da dobra em 3 partes.
Final do mês, retornaram as aulas no modo EAD e a mesma vó que acabara de fazer aniversário foi internada com infecção urinaria entre outras coisas que a idade trás.
Então março e abril eu passei bem pra uma pessoa que tem transtorno de ansiedade e tendência a evoluir pra depressão. Sabe aquela historia de que os olhos não vêem o coração não sente? Os dois piores dias foram os aniversários que eu vi as minhas avós, mas não pude abraçar. De resto eu lido muito bem com a solidão, alem de que eu não to sozinha, eu moro com meu marido afinal.
Maio, ah esse mês ferrou. Minha vó passou mais de um mês internada, pegou maio todo, e por causa do COVID-19 os acompanhantes tinham que ficar pelo menos 24h no hospital, e claro não podia visitas. Eu fiquei cerca de 1x por semana com ela, talvez um pouco mais, e nossa como é cansativo, emocionalmente principalmente, porque você fica ali pajeando a pessoa, assistindo o sofrimento dela e de mais uma pessoa porque não era quarto particular, não dorme porque fica preocupada...
Sendo assim então maio eu saí muitas vezes, cada vez mais revoltada com a população da minha cidade, porque já era obrigatório o uso da máscara e você vê muita gente na rua, e você vê que não precisava estar na rua, vê gente sem máscara, vê gente usando máscara errado, vê comercio que não é essencial aberto... Eu juro que eu entendo que as pessoas precisam trabalhar, cheguei a pegar Uber algumas vezes inclusive e conversei com os motoristas sobre isso (claro que eu não ia pegar ônibus né), mas o que as pessoas não entendem é que a economia do país já tava ferrada antes, e que o falido se recupera, o falecido não! E claro eu tenho que agradecer aos deuses todos os dias porque eu não preciso trabalhar fora, eu estou dando aulas particulares de informática via Zoom e aulas de Pa-kua cosmodinâmica (tai chi) por enquanto via Messenger. E mesmo que eu fique sem alunos, agradeço aos deuses também que meu marido consegue segurar a bronca sozinho, ele que já trabalhava 100% homeoffice desde setembro de 2019 se não me engano.
Resumindo, maio foi difícil bagarai, e junho que ta no comecinho tem coisa que ta melhorando e tem coisa que ta piorando.
Vamos começar pelo lado bom, minha vó teve alta no ultimo dia 5, vai ser difícil financeiramente, mas a gente consegue contratar pessoas capacitadas pra cuidar dela se revezando de 12 em 12 horas, sem falar que minha mãe ta morando lá assim é uma pessoa a menos pra sair e se expor e expor a minha vó ao vírus.
O lado ruim é que maio cagou meu emocional, o cansaço da preocupação com a minha vó, tarefas da Etec acumulando, a falta de fé na humanidade, principalmente nos brasileiros, e ainda mais nos santistas, pensamentos obscuros que não permitirão minha entrada no céu, principalmente coisas malignas que eu queria fazer com o presidente...
Agora ainda tem a questão do racismo, que pelo amor dos deuses a humanidade não evolui, é xenofobia, racismo e mais o que?
Pelo menos esses 3 meses passaram voando pra mim, e algumas vezes eu perco a noção, tipo eu sei que eu saí no dia 5 porque foi quando minha vó teve alta, mas não lembro se já saí mais vezes em junho, perdi mesmo a contagem. Só sei que não pretendo sair mais, só se minha mãe precisar de mim. Ou minha irmã porque a cidade de São Paulo ta reabrindo, eu não sei se ela vai continuar trabalhando de casa ou se vai ter que ir pro escritório, se ela tiver que ir e as escolas continuarem fechadas, eu vou ter que ir cuidar das minhas sobrinhas, pelo menos o emocional melhora eu acho.
E é isso, eu já queria ter escrito esse post mais cedo, acho que já faz um mês que eu quero escrever, mas eu to naquele estado depressivo que só quero dormir. Escrevi agora porque tomei um cappuccino e por menos cafeína que tenha eu já fico ligadona porque eu não gosto de café.